A estrela passou, abalou a visão do povoado e fez os cegos enxergarem...
-As vezes sonhos são apenas sonhos, sabia? Ou nós os tornamos realidade, basta alimentá-los com pesadelos.-uma olhadela no céu com aqueles lindos olhos sonhadores e horríveis expressões de desistência. A cálida noite começava com ventos sórdidos, barulhos estranhos e sussurros assustadores. Uma noite normal. A bela menina de cabelos vermelhos se encontrava deitada na relva, sentindo a terra em contato com a pele, aquele odor tão refrescante lhe alcançando as narinas.
Os olhos se fecham, a noite começa - ou são apenas pesadelos.
A pele alva suja de terra, as madeixas encardidas, o vermelho tão puro manchado.Não era sangue derramado, não ainda. A respiração lhe falhou durante um segundo e ela acordou assustada, ansiosa e angustiada. Folhas farfalhavam, animais se comunicavam num silêncio acusador e o vento assobiava. Ela se sentia numa ultima história.
Ainda não era a hora, mas tudo a matava lentamente, ela sentia.
Um tentativa de olhar o céu novamente, porque ela não conseguia ver? Podia sentir as grama baixa, as folhas secas que suas mão amassavam. Podia sentir o solo lamacento, sentir o leve odor de madeira. Sensações. Dedos nos lábios; mãos nos cabelos; berros.Berros secos, tingidos magnificamente de vermelhos, arranhados por tristezas e torturantes. Berros que ninguém ouvia. Jogou-se na terra de novo; porque tinha se escondido ali mesmo? Se repugnava por estar naquela floresta densa onde não podia ver as lindas estrelas.
Vozes lhe perseguiam, marcavam o tempo de esconderijo. Onde está a saída?
Seu sono lhe faltava a dias, o cansaço e a necessidade de fechar a vista aumentava com os segundos no escuro brutal. Talvez estar perdida no meio de tanto verde tivesse maltratado seus olhos, pois agora eles ardiam constantemente e ela jurava que a luz quase lhe cegava. As palavras saiam roucas e a garganta estava machucada, mas porque? Já devia ter melhorado das graves feridas, mas o tempo sem falar estava começando a lhe afetar.
O vento soprava suave, seu cabelo dançava levemente por seu rosto e terra. O tempo não parecia passar.
Deixar-se morrer ali parecia ser tão fácil e agradável. A terra macia e fria, a chuva que -as vezes- ali gotejava, os vermes que já andavam pela terra esperando seu corpo pútritar. Feixes de luz, ar nos pulmões, sensações de aconchego. A morte podia esperar, a vida estava parecendo boa. O dia nascia e ela ainda estava ali, calculando a hora certa de desistir. Talvez essa hora não existisse.



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